X.X

Todas as noites ele me diz adeus.

Neste instante, fecho as janelas antes que seja tarde demais.

Ainda busco seu sorriso para me guiar nesta escuridão,

mas me perco antes de chegar novamente ao fim…

Enquanto passava as noites ao seu lado,

eu olhava dentro dos seus olhos castanhos — que cintilavam —

e, em silêncio, me despedia de você.

Muito antes do adeus verdadeiro.

No fundo, eu sabia.

Já pressentia.

E agora eu me pergunto:

Será que você está feliz com as estradas tortas que escolheu?

Caminhos que pisotearam todas as nossas lembranças?

Tudo o que sinto por você hoje se resume a uma palavra:

Decepção.

Se alguém me machucou mais do que você nesse intervalo de tempo, eu esqueci.

Você teve todas as respostas às minhas perguntas.

Foi você quem decidiu abrir minha caixa de Pandora —

e o fez sem sequer se preocupar em trancar depois.

Você despertou algo em mim que estava adormecido

desde a última grande decepção amorosa.

Me mostrou que posso me reconstruir

— mesmo depois de um vendaval —

num piscar de olhos.

Me ensinou a ser forte.

Mais forte que meus próprios sonhos,

aqueles que já estavam se apagando dentro de mim…

antes de você chegar.

Você teve tempo.

Tempo suficiente para mergulhar no meu mar de ilusões

e voltar à tona mais forte do que eu jamais fui.

Você me mostrou.

Mas, como sempre, veio a velha ladainha:

“Vamos manter a amizade…”

Amizade?

Como se faz essa proeza sem sangrar?

Mesmo essa vontade — a de te manter por perto —

já morreu dentro de mim.

Queria estar te abraçando, te beijando, dizendo, gritando:

“Ei, por favor… estou aqui. Me aceita. Me abraça antes que eu me perca de vez nesse meu mundo de dor. Me ama mais do que ontem à noite, porque — caramba — eu preciso de você para me manter de pé…”

“Mesmo com nossas diferenças, você me despertou para um mundo novo,

um lugar que já dormia dentro de mim, enquanto eu sobrevivia em outra estação…”

Porque eu descobri, em uma noite de tempestade, que te amo.

E não tenho mais forças para esconder isso dentro de mim.

É maior do que eu.

Maior do que qualquer multidão que me habite.

Eu te amo. Está ouvindo?

Amo de um jeito que nunca amei ninguém.

(…)

Volto ao presente.

E agora, definitivamente, estou fechando as janelas.

Antes que seja tarde demais.

Antes que a brisa se torne tempestade outra vez.

Que não seja tarde demais.

P.S.: Dedicado à maior decepção de 2013