O gesso invisível
A maioria das pessoas guarda diversos segredos de dor sob um gesso invisível, que recobre todo o corpo, esperando que alguém de carne, osso e dores semelhantes apareça para ajudá-las a remover esse gesso — nem que seja aos poucos. Só que quase nunca aparece ninguém. E o gesso permanece lá, até o fim da nossa existência. Eu também tenho o meu gesso, e ele tem a mesma idade do meu corpo. No início, foi colocado para proteger minhas pernas. Logo em seguida, subiu meticulosamente da cintura para cima. E, aos vinte e poucos anos, já cobria do peito até a cabeça. O meu gesso não é branquinho como a neve. Ele tem um tom cinza, e carrega vários nomes pichados. São nomes de pessoas e ressentimentos que eu gostaria de esquecer para sempre. Mas eu me lembro. Lembro que, muitas vezes, esse gesso foi colado para me ajudar a perceber o quanto somos frágeis — e como nosso coração e nossos sentimentos estão, o tempo todo, prestes a se curar… ou não. Só que tudo depende de nós. Depende d...