WALT WHITMAN [1819 / 1892 ]



Walt Whitman, norte-americano, sempre sonhou ser poeta e desejou entender o que eram ã poesia e o sentimento poético. Com isso, interpretou a seu modo a América do seu tempo [século 19].
Era aberto a todo Conhecimento, viesse ele de pensadores, poetas, desconhecidos, da Bíblia. Seu mais famoso livro é "Folhas
das folhas de Relva" [Leaves of Grass]
Uma síntese do poeta do “ego”, da boca escancarada, da voz livre. [...]

Walt Whitman nasceu em 1819, em West Hills, Long Island, Estados Unidos. Um homem incomum para o seu tempo e para a sua obra. Conseguiu transportar-se de uma vida singular em uma nação incipiente, tornando-se a voz do seu canto em uma época ríspida e de consolidação daquela que seria a maior potência do próximo século.
Whitman segue algumas profissões sem êxito. Ajudante de tipografia, jornalista discreto, ensina em East Norwich, trabalha como enfermeiro durante a Guerra da Secessão.
A poesia de Whitman traz a sua epopéia pessoal e a epopéia de uma América em ascensão. Contrariando as morais vigentes do século XIX, o poeta escreve livremente sobre o amor na forma que ele o sente, o amor entre iguais, o amor do homem pelo homem. Retrata em seus poemas a vida real e cheia de contradições. O seu canto exalta o desejo, o corpo reflete a mente, completa o universo do homem e da sociedade onde está inserido, pois a vida é de desafios e exaltações permanentes.
Na sua poesia sentimos o cheiro das folhas dos plátanos, o vento cortante das brisas de inverno, ouvimos as águas dos riachos mansos como a promessa de vida. Sentimos nos seus poemas a cama quente dos corpos e os abraços acolhedores e entrelaçados dos seus amantes. São poemas que desfazem o erotismo para dar passagem ao lirismo e à simplificação dos sentimentos, vividos como um abraço de boas vindas e companheirismo.
A poesia de Whitman causa repulsa nos mais conservadores da época. É considerada por muitos uma obra maldita, menor e provocante. A América recusa Whitman. Com o passar dos anos e a maturidade da jovem nação evoluindo, a poesia de Whitman vai perdendo os seus opositores e conquistando cada vez mais o espaço merecido. Por fim os ecos que condenavam a sua poesia desaparecem na poeira dos preconceitos seculares. E a América curva-se diante do seu maior intérprete e cantor. Whitman é o canto não dele mesmo, mas da formação dos Estados Unidos.
O poeta morreu em Camden, Nova Jersey, no dia 26 de março de 1889. Foi um homem autodidata, porte atlético e de alma apaixonada e apaixonante. Antes dele, poeta nenhum do Novo Mundo ousou escrever tão abertamente sobre o homossexualismo. Depois dele poucos o fizeram tão espontaneamente.

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O PRÓPRIO SER EU CANTO.

O próprio ser eu canto:
Canto a pessoa em si, em separado
_ embora use a palavra Democracia
e a expressão Massa.

Eu canto o Corpo
Da cabeça aos pés:
Nem só o cérebro
Nem só a fisionomia
Tem valor para a Musa
- digo que a forma completa
é muito mais valiosa,
e tanto a Fêmea quanto o Macho
eu canto.

A vida plena de paixão,
Força e pulsam,
Preparada para as ações mais livres
Com suas leis divinas
O Homem Moderno
eu canto.
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POETAS DE AMANHÃ

Poetas de amanhã: arautos, músicos,
cantores de amanhã !
Não é dia de eu me justificar
E dizer ao que vim;
Mas vocês, de uma nova geração,
Atlética, telúrica, nativa,
Maior que qualquer outra conhecida antes
- levantem-se: pois têm de me justificar !

Eu mesmo faço apenas escrever
Uma ou duas palavras
Indicando o futuro;
Faço tocar a roda para frente
Apenas um momento
E volto para a sombra
Correndo

Eu sou um homem que, vagando
A esmo, sem de todo parar,
Casualmente passa a vista por vocês
E logo desvia o rosto,
Deixando assim por conta de vocês
Conceituá-lo e aprová-lo,
A esperar de vocês
As coisas mais importantes.

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ENQUANTO EU LIA O LIVRO.

Enquanto eu lia o livro,
a famosa biografia:
- Então é isso (eu me perguntava)
o que o autor chama
a vida de um homem?
E é assim que alguém,
quando morto e ausente eu estiver,
irá escrever sobre a minha vida?
(Como se alguém realmente soubesse
de minha vida um nada,
quando até eu, eu mesmo, tantas vezes
sinto que pouco sei ou nada sei
da verdadeira vida que é a minha:
somente uns poucos traços
apagados, uns dados espalhados
e uns desvios, que eu busco
para uso próprio, marcando o caminho
daqui afora.)
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QUANDO SOUBE O FIM DO DIA.

Quando soube ao fim do dia que o meu nome fora aplaudido no capitólio, mesmo assim nessa noite não fui feliz,
E quando me embriaguei ou quando se realizaram os meus planos, nem assim fui feliz,
Porém, no dia em que me levantei cedo, de perfeita saúde, repousado, cantando e aspirando o ar fresco de outono,
Quando, a oeste, vi a lua cheia empalidecer e perder-se na luz da manhã,
Quando, só, errei pela praia e nu mergulhei no mar e, rindo ao sentir as águas frias, vi o sol subir,
E quando pensei que o meu querido amigo, meu amante, já vinha a caminho, então fui feliz,
Então era mais leve o ar que respirava, melhor o que comia, e esse belo dia acabou bem,
E o dia seguinte chegou com a mesma alegria e depois, no outro, ao entardecer, veio o meu amigo,
E nessa noite, quando tudo estava em silêncio, ouvi as águas invadindo lentamente a praia,
Ouvi o murmúrio das ondas e da areia como se quisessem felicitar-me,
Porque aquele a quem mais amo dormia a meu lado sob a mesma manta na noite fresca,
Na quietude daquela lua de outono o seu rosto inclinava-se para mim,
E o seu braço repousava levemente sobre o meu peito – nessa noite fui feliz.
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PLENO DIA DE VIDA AGORA.Pleno de vida agora, concreto, visível,
Eu, aos quarenta anos de idade e aos oitenta e três dos Estados Unidos,
A ti que viverás dentro de um século ou vários séculos mais,
A ti, que ainda não nasceste, me dirijo, procurando-te.

Quando leres isto, eu que era visível, serei invisível,
Agora és tu, concreto, visível, aquele que me lê, aquele que me procura,
Imagino como serias feliz se eu estivesse a teu lado e fosse teu companheiro,
Sê tão feliz como se eu estivesse contigo. (Não penses que não estou agora junto a ti.)


***CRONOLOGIA
1819
– Nasce a 31 de maio em West Hills, Long Island.
1823 – Muda-se com a família para Brooklyn.
1825-30 – Freqüenta a escola oficial.
1830-34 – Aprendiz numa tipografia.
1835 – Trabalha como impressor em Nova York.
1838-39 – Edita o semanário Long Islander, em Huntington.
1842-44 – Edita um jornal diário, o Aurora; edita o Evening Tatler.
1845-46 – Regressa a Brooklyn e escreve para o Long Island Star.
1846-48 – Edita o Daily Eagle de Brooklyn.
1855 – Publica a primeira edição de Leaves of Grass. Morre-lhe o pai.
1856 – Publica a segunda edição de Leaves of Grass.
1860 – É publicada a terceira edição de Leaves of Grass. Pela primeira vez uma edição que não é do autor.
1863-64 – Trabalha como enfermeiro voluntário na Guerra da Secessão.
1865 – Publica Durm-Taps, 53 poemas acerca da Guerra da Secessão. É demitido do Departamento do Interior pelo secretário James Harlan, que considera Leaves of Grass indecente.
1867 – Sai a quarta edição de Leaves of Grass, com 8 novos poemas.
1868 – Publicada em Londres Poems by Walt Whitman.
1870-71 – Quinta edição de Leaves of Grass. Na segunda tiragem dessa edição é incluída Passage to Índia e mais 71 poemas, alguns inéditos.
1873 – Parcialmente paralisado em janeiro. Morre-lhe a mãe em 23 de maio.
1876 – Sexta edição de Leaves of Grass, em dois volumes.
1880 – Sétima edição de Leaves of Grass. Devido às ameaças de um promotor público, a distribuição do livro é interrompida. A edição só é retomada em 1882. Inclui 20 poemas inéditos.
1882 – Publicado Specimen Days and Colect.
1883 – Estudo crítico da poesia de Whitman por Bucke.
1884 – Adquire uma casa em Mickle Street, Camden, Nova Jersey.
1888 – Novo ataque de paralisia. São publicados 62 novos poemas sob o título November Boughs. Publicado Complete Poems and Prose of Walt Whitman.
1889 – Oitava edição de Leaves of Grass. Prepara a edição chamada de “leito de morte” de Leaves of Grass, que seria publicada em 1892. Morre no dia 26 de março e é sepultado no Cemitério de Harleigh, Camden, Nova Jersey. É publicado Complete Prose Works.
1897 – Publicada a décima edição de Leaves of Grass, a que se juntam os poemas póstumos Old Age Echoes.

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