Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre.

“Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traía sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu.” (Crônica de um amor louco_Bukowski)

É engraçado… a vida, os sonhos, as coisas que construímos em nossa mente ao longo do tempo. Os personagens que criamos, muitas vezes, só para não nos sentirmos completamente solitários nesse mar profundo e sem fim.


É assim que surge a paixão — ou o que chamamos de amor. Sempre a mesma história: a mocinha conhece o rapaz em um dia X, sob circunstâncias que só os céus, ou o destino, poderiam escrever nas estrelas, ou nas entrelinhas do tempo. Eles se apaixonam desesperadamente, pelos defeitos, qualidades e particularidades um do outro. Tudo aquilo que torna a relação única e especial.


Pois bem, em um dia, em um lugar qualquer, eu encontrei alguém especial. As circunstâncias também eram estranhas e desconhecidas. Depois de algumas semanas, aconteceu — um sentimento desenfreado, cativante, impulsivo, juvenil. Uma espécie de substância mágica que despertou em mim sensações e sentimentos bons, há anos adormecidos.


E me fez acreditar. Acreditar que aquilo era real. Que duraria para sempre. Que só o fato de estar ao lado daquela pessoa já bastava para eu ser feliz.


Mas as semanas viraram meses. E depois, anos. Palavras e atitudes foram apagando a magia do início. A máscara caiu. E depois de tantas bombas que atingiram minha confiança e destruíram a imagem perfeita que eu havia criado, percebi: aquele rapaz que um dia me encantou, agora despedaçava minha alma e minha esperança.


Com suas mentiras, seus problemas emocionais, suas crises de solidão… vi que ele nunca foi o “certo”. Era apenas um príncipe negro amaldiçoado que eu inventei, tentando salvar o pouco de romantismo que ainda me restava.


Percebi que eu esperava muito mais. Muito mais do destino. Do amor. De mim. Eu queria viver algo que fosse além das historinhas românticas. Algo verdadeiro, único. Eu só queria acreditar que aquilo daria certo. Mas não deu. Foi tudo uma grande farsa.


Fui nocauteada no espírito, forte e dolorosamente.


No fim, aprendi que — querendo ou não — a gente passa por tudo isso de novo. Só muda o nome, o rosto, o sorriso… e a dor.


Um ciclo sem fim. Até que, um dia, o destino te dá um estalo. E você desperta. Descobre que ninguém é perfeito para ninguém. E que você já está velho demais para se iludir.


E então… num dia qualquer, você conhece alguém. De carne e osso. Cheio de dramas, machucados, cicatrizes como as suas.


Aprendi que esses romances bonitinhos são lixo puro. Ilusão barata. E que, se você não quiser se quebrar de novo, precisa parar de criar expectativas. Precisa guardar o seu romance só para você, onde ninguém poderá destruí-lo.


No fim das contas, com vinte e poucos anos, você só vai querer encontrar alguém que não minta. Alguém que queira compartilhar as verdades e os temores.


Alguém que te ajude a catar os cacos do coração — e não alguém que te deixe ainda mais em farrapos.


Porque a maior lição que aprendi é simples, mas profunda:

não tem nada pior do que amar alguém que nunca vai parar de te decepcionar.


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