Debruçados

Estamos debruçados em uma janela de erros.

Debruçados, esperando.

Sempre estamos a esperar

qualquer coisa que nos mantenha vivos,

que nos salve —

nos salve das ilusões que criamos,

dos sonhos que pensamos já não nos pertencer,

nos salve das catástrofes,

ou das pessoas que não nos entendem.


Todos estamos debruçados

em uma constante janela de sonhos.

Debruçados em nossas memórias,

em asas gigantescas de amor infinito,

graças dos deuses,

que se regozijam com a mediocridade humana,

a ambivalência afetiva,

contornos e mentes que se apagam

quando se deitam e dormem,

fingindo que tudo vai ser o suficiente.


Só que nada é suficiente.

Ao fim, fecham suas janelas e dizem adeus!


Estamos debruçados em uma janela de amor.

Alguns zombam

e se esvaem como fumaça.

Outros cantam canções,

mimicamente encenadas.

Outros estão quebrados,

dilacerados,

cortando laços inimagináveis

com linhas de horizontes alheias.


Enquanto uns amam, outros estão juntando os cacos.

Alguns imaginam a estrada, mas não conhecem o caminho

e se perdem ao trilhar trechos

onde não é permitido andar sozinho.


Estamos debruçados em uma janela constante de dor,

que é esculpida antes mesmo de nascermos.

Sua madeira é a genética.

Seu vidro, a nossa existência.

Ao fechá-la, percebemos que a escuridão por trás dela

só será impactante

se permitirmos.


Estamos todos atrás de uma janela.

Só que, da minha janela,

posso ver seu rosto.

Tudo o que é bom e de verdade, aguarda-me.

Nessa janela, tenho coragem de abrir

e quero saber o que existe por trás dela.


[Lá dentro]

Não sinto medo.

Não sinto que é um erro.

Sinto que estou em paz.

Nunca será tarde para sonhar e realizar.

Só sei que estou pronta —

e isso não é o fim.


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