O viajante e sua sombra.
Para se compreender uma viagem, é preciso coragem.
E coragem não é algo que se divide ou se dá por aí.
Coragem é para quem já nasce com ela, para quem foi contemplado e gerado com isso desde o início.
Minha viagem começa numa tarde quente de dezembro. Mas, espera aí — na verdade, foi em novembro.
Porque, para mim, novembro é aquele mês em que contemplo tudo à minha volta: desde uma pequena gota de orvalho até o nascer do sol.
É o mês em que crio múltiplas possibilidades de me reencontrar, todos os dias que me pertencem.
É o mês em que consigo contemplar até uma simples borboleta voando perto da janela de um ônibus, que me leva a uma nova cidade — uma cidade que, às vezes, conheço até mais do que seus próprios habitantes, que permaneceram ali a vida inteira.
Como boa viajante que sou, apenas observo.
Observo de longe.
Observo o caminhar simplório das pessoas mais velhas e também observo os jovens, porque, de certa forma, alguns jovens enxergam mais detalhes do que muitos idosos que já viveram cinco vezes mais.
A vida pode parecer igual para milhares, mas quando um terceiro olho se abre — bem no meio da testa — tudo muda.
O horizonte e a própria vida ganham uma nova dimensão diante das coisas e das pessoas que estão à nossa frente.
Mas, continuando minha viagem, aprendi, dias desses, que o verdadeiro viajante observa e tenta agir — não como um forasteiro, mas como alguém que faz parte do meio social da cidade onde está.
Você passa por alguém e diz “bom dia” como se já conhecesse aquela pessoa há muitos anos.
Como se fosse um parente, um amigo de décadas.
Outra coisa importante: um bom viajante deve estar a par de tudo o que está acontecendo na cidade — da política aos problemas sociais.
Ele deve estar integrado com a cidadania, com os direitos e os deveres daquele lugar.
E é sempre bom lembrar: uma agradável conversa, caminhando à noite por algum ponto turístico com uma pessoa da cidade, vale muito a pena.
Sempre agradeça pela hospitalidade — seja num restaurante, seja numa pousada.
Aprendi, em minhas viagens, que transmitir gratidão a quem nos serve — mesmo sabendo que você não voltará por um bom tempo — não só agrada quem te atende, mas também te faz refletir:
“Estou tratando essa pessoa como eu gostaria de ser tratado se eu fosse o desconhecido.”
Um verdadeiro viajante está satisfeito, mesmo se o ônibus público estiver lotado.
Mesmo se estiver em pé, indo para um local afastado, sabendo que vai demorar.
Porque um verdadeiro viajante está sempre aberto para descobrir algo novo em qualquer lugar.
E deve estar de bom humor para enfrentar os transtornos que surgem pelo caminho.
Sei que, se as coisas forem encaradas com coragem — e uma boa dose de bom humor —, elas sairão bem.
Mas só se o viajante em questão aprender a ter o que eu disse no início: coragem.
Não importa se você vai viajar para perto ou para longe, para outro estado ou país.
O que importa é que, só quem encara as coisas de frente, se torna mais forte — e mais corajoso — para seguir viagem rumo a novas dimensões e descobertas interiores, que a vida e o destino nos oferecem de bandeja.
Aprenda desde já uma lição valiosa: dê valor às coisas, por mais pequenas ou insignificantes que elas pareçam.
E sempre agradeça — porque você tem olhos para contemplar o fim de uma tarde em frente ao mar, ou o salto de uma cachoeira em meio a uma floresta.
Contemple a grandiosidade de estar vivo.
Estar vivo, com problemas ou não, já é um presente.
Não se lamente pelas chances perdidas.
A felicidade é você quem cria.
Agradeça por estar bem, por ter saúde, e por ter a chance de pensar:
“Sou um vencedor por estar aqui e lutar por aquilo que eu quis.”
Boa viagem. E uma ótima vida.
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