Conto de Natal: Uma Outra Estação!






Eu ainda lembro a primeira vez que estive em uma festa de rock, eu estava observando as pessoas ao meu redor, e relaxando com um cover da música “Come As You are” da banda americana Nirvana, e como sempre fiquei sentada no lado escuro do palco, apenas observando as pessoas ao meu redor em completo estado de euforia, com o som da guitarra e a voz do garoto mais gatinho do colégio, ele jamais daria a mínima pra mim, porque além de ele namorar a garota mais popular e bonita do colégio, ele jamais me enxergaria, nem se eu me pintasse de verde e subisse na torre mais alta do colégio, ele definitivamente não daria á mínima (não dá forma que eu desejava). A minha melhor amiga Mônica me disse que isso mudaria se eu soltasse o cabelo, e tirasse os óculos e fizesse uma profunda limpeza no meu guarda-roupa, (como se isso fosse possível) eu tentava me arrumar eu confesso, mas todas as vezes que tentava, me sentia mais feia do que um canhão, a Mônica é minha melhor amiga desde que me mudei aqui pra São Paulo, desculpe acho que não me apresentei ainda, meu nome é Andréia Doria, tenho 15 anos e moro com minha avó e meu irmão caçula na cidade da garoa, na verdade éramos de outro estado e tínhamos uma ótima vida lá, só que minha mãe morreu e o meu pai havia nos abandonado assim que ele descobriu que minha mãe estava grávida de mim, ela se casou de novo e teve o meu irmão só que o pai dele morreu quando ele completou dez meses de vida, então quando minha mãe morreu a única pessoa mais próxima da família era minha avó, assim ela assumiu nossa guarda, pra falar a verdade minha avó Clarisse, não tinha uma boa amizade com minha mãe, e eu nunca sabia por que, até que viemos morar com ela e ai pronto o tsunami veio à tona, (mas sinceramente não gosto de recorda isso).

Minha vida nunca foi fácil depois da morte da minha mãe, sempre tinha que cuidar do meu irmão Eduardo de 13 anos, porque minha querida vovó de certa forma não cuidava nem dela mesma, e eu sempre á ajudava no colégio, até porque ela era a expectora dela, e como ela tinha certa amizade com a dona do colégio, está me arrumou uma bolsa de estudos, então desde sempre estudei em um renomado colégio de classe media alta de São Paulo, e foi nele que conhece o João Roberto, quer dizer Johnny, esse menino que eu amo platonicamente, eu sou o patinho feio e a menina mais pobre do colégio e por isso sempre me isolei na biblioteca, enquanto meus “amigos” estavam ficando e curtindo a vida eu estava lendo livros pra passar o tempo, até que um dia me esbarrei com um menino da galera do Johnny na biblioteca, ele tava fumando lá dentro exatamente na hora que eu estava fazendo a limpeza dos livros, bom eu não dedurei ele pra diretora, até porque a mãe dele era a dona do colégio e ela iria ficar muito feliz quando soubesse que seu filhinho de 15 anos estava dando um ótimo exemplo pros outros alunos.
Depois desse episodio na biblioteca, eu e Jeremias, ficamos amigos, amigos só não, confidentes, até porque ele era amigo do Johnny e só isso bastava pra mim, eu e Jeremias estudávamos na mesma classe, e sempre quando ele estava encrencado em alguma matéria sempre pedia minha ajuda (eu era CDF). Bom as semanas iam passando e eu estava desesperada pra arrumar um emprego, queria ganhar meu próprio dinheiro e não precisar da minha avó, que por sinal estava mais mão-de-vaca do que nunca. A Mãe da Mônica me arrumou um emprego como diarista na grande mansão da esquina do colégio, onde ela trabalhava á alguns anos, eu aceitei na mesma hora, e comecei á trabalhar no outro dia.

Meu trabalho basicamente era levar as roupas sujas que estavam nos quartos para a aérea de serviço e colocá-las na máquina para lavar, e em outras ocasiões lavar e secar todas as louças das refeições, eu até regava as plantas do enorme jardim (essa era a melhor partir), nos primeiros meses que trabalhava na casa, sempre via a senhora Maria Lúcia sozinha nas refeições, seu marido só a acompanhava no café da manhã, e rapidamente saia, mais eu sabia que ela tinha um filho e uma filha, a filha se casou cedo e morava em uma cidade do interior de São Paulo, já o filho eu jamais o vi, até porque a mãe da Mônica me dizia que ele era um rapaz muito boêmio e que raramente acordava cedo, eu chegava á mansão por volta do 12h00min e ficava lá ate 07h00min da noite, e nunca o vi, até mesmo para pegar as roupas sujas em seu quarto, só me deixavam quando era certificado que ele já não estava mais em casa. Bem, os meses estavam passando e eu, como sempre me sentia uma completa excluída da sociedade do colégio, o Johnny e sua banda sempre faziam alguns shows e nessa semana iriam tocar no clube Faroeste Caboclo, lógico que convidei á Mônica para ir, e mesmo cansada do meu trabalho, fomos para o show, até porque eu tinha que curtir um pouco e ver o Johnny em mais um desempenho alucinante com sua banda. Assim que chegamos lá, á Mônica conheceu um carinha do seu colégio e começaram a ficar e eu tentava me enturmar mais sempre não dava certo, ás pessoas se afastavam quando eu tentava conversar com elas, minha salvação foi que o Jeremias assim que me viu, me puxou pra mesa onde ele estava com uma galera do colégio e começou a conversar comigo, (uma pequena regra de popularidade é que se você for popular pode conversar com qualquer um) e nesse momento em que o Jeremias conversava comigo as pessoas da mesa me davam um pouco de atenção, só porque eu estava com ele, quando me dei conta o Johnny vinha em direção a mesa e começou a conversar com o Jeremias, nesse momento eu não sabia o que fazer, ficou totalmente sem graça, o menino que eu amava bem ali na minha frente e eu igual á uma pateta apenas olhando para seu rosto, o Jeremias me olhou docemente e disse: - Johnny você já conhece a Andréia? Ela estuda comigo e é uma grande fã da sua banda!
Ele olhou-me como se fosse uma completa desconhecida e sorriu dizendo:
- Oi Andréia e então está gostando do show?
Eu fiquei por uns segundos, meia que muda e falei olhando fixamente para seus olhos azuis:
- Oi muito bom o show, principalmente quando você cantou “Que País é este?”...
Ele sorriu e quando vi que ele se interessou por minha resposta, chega à convencida, imbecil, boçal da namorada dele, simplesmente uma fresca, ela se agarra ao seu braço e tira ele do meu lado, ele apenas faz um gesto de gentileza com a cabeça e sai em direção ao palco.
O Jeremias começa a conversa de novo comigo e por uma espécie de leitura corporal ele me fala: - Se quer saber, se eu fosse você desistiria dele, porque ele além de ser galinha, nunca vai dar uma chance a você! Eu dei um longo suspiro de cansaço e falei:
- Eu jamais poderei desistir de algo que não me pertence, e que nunca me pertenceu.

Despedi-me dele e fui atrás da Mônica, pra mim o show já havia acabado ali.
No outro dia no colégio as últimas novidades eram que o show havia sido um sucesso e que a banda foi convidada para fazer outro show em uma casa noturna do centro, muito badalada pela mídia.
Assim que cheguei ao meu emprego, vi pela primeira vez o misterioso filho da minha patroa, ele não era jovem, aparentava ter por volta de 30 anos de idade, ele estava sentado em uma parte do jardim que sempre para mim era a mais bela, ele estava lendo um livro de Shakespeare, e eu me lembro que ele não se deu conta da minha presença, eu estava limpando os cacos de um vaso que havia quebrado, assim que cheguei à cozinha a dona da casa havia me perguntado se eu havia visto o seu filho Renato, eu disse que o vi lendo no jardim. Já havia passado três semanas desde primeira vez que eu vi o senhor Renato, ele era um homem triste, e quando não estava trabalhando em seu escritório, sempre o vi lendo ou tocando piano, que por sinal tocava magnificamente bem, a mãe da Mônica me pediu pra levar uma camisa dele até seu quarto e eu levei, assim que cheguei ao seu quarto ele estava em frente ao computador muito concentrado e acho que mal notou minha presença quando bate sem querer em seu criado-mudo e de cima dele caiu uma espécie de diário, onde eu vi uma coisa que me surpreendeu muito, uma foto, mais não uma foto qualquer, era a foto da minha mãe com uns 15 anos de idade, eu gritei meia que abafado e ele olhou-me e perguntou de imediato: - O que houve menina? Eu respondia meia que assustada:
- Nada senhor, me desculpe caiu sem querer.
Eu sai imediatamente do seu quarto ainda meio tonta, (como assim será que era realmente minha mãe aquela mulher da foto?) fiquei me perguntando isso por dois dias, nessa mesma semana eu perguntei a minha avó qual era o nome do meu pai, ela disse que isso não interessava e que eu deveria esquecer aquele porco capitalista, e que ele era culpado pela morte da minha mãe, essa sempre era a ladainha dela, jamais pergunte o passado.
Fiquei intrigada por completo, eu tinha certeza que não estava pirando e que aquela mulher da foto era sim minha mãe, só que com uns 15 anos de idade, eu conversei com a Mônica e isso me tranqüilizou, ela falou que iria pergunta a sua mãe mais coisas sobre o senhor Renato e iria me dizer. As coisas no colégio estavam às mesmas de sempre, só que neste dia tive um desentendimento com a bruxa da professora, ela sabe que sou tímida e que odeio ler na frente do quadro, mas como sempre a corda quebra pro lado do mais fraco, ela me chama em tom de obrigação para ler, lá vou eu morta de vergonha teve que ler; e li um dos meus poemas prediletos do Edgar Allan Poe, traduzido por Machado de Assis, o nome era O Corvo:


Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga
Ao pé da muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi a porta
Do meu quarto de um soar devagarzinho,
E disse estas palavras tais:
“É alguém que me bate á porta de mansinho;
“Há de ser isso e nada mais.”

Assim que terminei de ler ainda tremula, a sala inteira começou a rir de mim, excerto Jeremias, eu comecei a ter ódio de algumas pessoas que me tratavam como se eu fosse um lixo, e definitivamente aquilo estava me cansando.
Neste mesmo dia de noite, Mônica foi até minha casa e me contou algumas coisas sobre o senhor Renato:
- Andréia eu conversei com a minha mãe e ela falou que desde que começou a trabalhar na mansão, esse tal de Renato morava fora do país, ela não lembra onde era mais que ele ficou lá por um bom tempo e que só voltou para o Brasil no ano passado, ela só sabe disso até porque a família toda é muito reservada, inclusive ele, se eu fosse você amiga perguntava á ele de onde conhecia sua falecida mãe, quem sabe não estudaram juntos ou coisa do tipo?
Segui o conselho da Mônica e assim que vi o senhor Renato, lendo no jardim fui logo falando:
- Boa tarde senhor!
Ele olhou-me da sua maneira misteriosa e disse: - Boa tarde menina!
Tive coragem e disse: Posso lhe perguntar uma coisa?
Ele meio que ocupado com os olhos disse: - Diga?
Eu respirei fundo e com minhas mãos geladas de medo, perguntei:
- Não queria ser intrometida mais naquele dia que bate sem querer em seu criado-mudo caiu uma foto do seu diário ou livro não sei bem certo o que era só que a mulher da foto me lembra muito uma pessoa, quer dizer uma pessoa que eu...
Antes que eu completasse a frase ele me olhou com um olhar de extrema nostalgia e disse:
-O nome dela era Leila...
Eu fiquei em estado de choque e repliquei dizendo:
- Leila era minha mãe, quer dizer que o senhor a conhecia?
Ele se levantou furiosamente em minha direção, e quando pensei que ele iria me dar uma tapa ele puxa a cadeira e me manda sentar ao seu lado e com um sorriso nos lábios diz:
- Como ela está? Faz tanto tempo que eu há vi, ela ainda pinta quadros em Curitiba?
Uma lágrima escorreu por minha face, e como se estivesse em um tipo de sonho podia ver minha mãe ao meu lado sorrindo, eu olhei-o dizendo:
- Bom senhor faz muito tempo mesmo que o senhor há viu, minha mãe morreu faz oito anos... Ele ficou pálido como um papel e no mesmo instante seus lábios tremiam como se fosse chorar, eu enxuguei minhas lagrimas e continue falando:
- Ela morreu e o mais engraçado é que já não pintava mais aqueles belos quadros, o último que ela pintou está na minha casa, se o senhor quiser posso trazê-lo para que o senhor o veja?

Ele ainda em estado de choque faz um sinal de positivo com á cabeça e saiu sem dizer absolutamente nada. Eu fiquei por mais alguns momentos sentada ali embaixo daquela árvore, relembrando da minha mãe e das coisas que ela havia pintado, se ela estivesse viva e vendo a mesma paisagem ao meu redor com certeza iria pintá-lo como Monet, eu me levantei e segui até a cozinha, assim que vi a mãe de Mônica pedi que me liberasse por que não estava me sentindo bem. Desse modo fui diretamente para casa e chegando lá, me deitei e dormir um sono pesado, um sono que parecia uma breve eternidade, vi entre meus sonhos minha mãe, ela me dizia coisas que eu não compreendi, só lembro-me de uma frase. No outro dia por incrível que pareça, eu acordei com seu Renato e minha avó brigando na sala de estar da minha casa, o que estava acontecendo? Eu fui ainda tonta na direção deles e perguntei:
- Vovó porque está brigando com o senhor Renato?
Ela com uma cara de ódio gritou:- Este senhor Renato foi o canalha que abandonou sua mãe grávida de você!
Realmente foi a bomba do ano, seu Renato era meu pai.

Se passou um bom tempo depois da maior descoberta da minha vida, meu pai era filho da minha ex-patroa que na verdade era minha avó, basicamente o que ele me contou do passado, foi que minha avó Maria Lúcia não aceitava seu namoro com minha mãe Leila, e ele sem saber que ela estava grávida acabou o namoro, e foi morar em Londres, só que nunca soube da minha existência, e sempre mesmo longe ainda amava muito a minha mãe, ele me disse que havia contrato um detetive para encontrá-la em Curitiba, só que depois de muitas tentativas e ilusões desistiu.
Minha vida realmente mudou, agora já não era a menina excluída e patinho feio do colégio, eu era agora o centro das atenções daqueles que antes não me davam o menor valor, e que agora me babavam cinicamente já que eu era neta de um grande empresário da sociedade paulistana, meus amigos de verdade como Jeremias e Mônica sempre me visitam na minha nova casa, e quanto a minha avó Clarice, pedi a meu pai para lhe dar um apartamento perto do colégio, assim ela não precisaria pegar duas conduções e chegar atrasada ao trabalho, meu pai atendeu ao meu pedido e deu um enorme apartamento de presente a minha avó pelos anos que ela cuidou de mim, e quanto ao meu irmão, ele continua morando com minha avó, mais já preparei um quarto pra ele, quando ele quiser me visitar na minha nova casa. E quanto a Johnny, a última vez que o vi foi ontem á noite...

Desculpe, vou me apresentar, hoje em dia sou Andréia Doria Lyndon tenho 20 anos e faço faculdade de Artes e Moda, fui considerada uma das mulheres mais bem vestidas de São Paulo em 2009, criei uma fundação de artes plásticas para ajudar crianças e adolescentes carentes das zonas mais pobres, meu sonho é criar esta fundação em todos os estados do Brasil, sou sócia com minha melhor amiga Mônica em uma grande Boutique, meu pai se casou novamente e tem uma galera de quadros no centro de Londres, sempre quando tenho tempo vou visitá-lo, até porque meu irmão está morando e fazendo faculdade lá também, meu melhor amigo Jeremias se casou com a ex-namorada do Johnny, e falando no Johnny, namoramos por um bom tempo mais hoje em dia somos apenas bons amigos, e agora estou noiva de um belo rapaz de 23 anos que conhece em um das minhas viagens por Israel, seu nome é Mauricio, sinceramente não mudei muita coisa do que eu era antes, aprendi com minha mãe a dar valor às coisas e pessoas que realmente são importantes, como diria o grande Shakespeare “O que importa não é o que você tem na vida, mais quem você tem na vida”.

By: Karolliny K. C.




Você.

Você que não entendia a minha dor,
Você que não enxergava o meu amor.
Você que não estava ao meu redor,
Você que fingia me ver.
Você que não compreendia o que eu falava
Você que não sabia nada do meu universo.
Você que iludia os meus sonhos,
Você que percorria o meu caminho.
Você que me fechava em seu armário,
Você que me iluminava em meio á escuridão.
Você que perseguia os meus medos,
Você que me acompanhava quando estava só.
Você que me confortava quando estava triste,
Você que me falava a verdade.
Você que me cortava em mil pedaços,
Você que me transportava para o seu futuro.
Você que pintava o meu horizonte,
Você que me quebrava,
Você que tentava me consertar com ideologias baratas,
Você que me queimava com seus cigarros.
Você que me deixava cicatrizes,
Você que me intoxicava com seu mal.
Você que me iludia com sua falsa paixão,
Você que me embriagava com seus venenos.
Você que me empurrava do seu penhasco,
Você que me beijava de madrugada.
Você que me minava com presentes,
Você que me enfeitava como uma boneca de luxo.
Você que me tratava como uma criança assustada,
Você que me protegia da escuridão.
Você que descobria o meu destino,
Você que me escutava mesmo estando chata.
Você que me aquecia contra o frio,
Você que me transmitia felicidade.
Você que todas as noites me dizia adeus,
Você que sussurrava as melhores canções.
Você que me abandonava nos piores dias da minha vida,
Você que adivinhava os meus desejos interiores,
Você que me elevava para o melhor de mim.
Você que buscava ser feliz.
Este é apenas você, o mesmo você que odeio e que um dia eu amei...


By: Lorak³




PS: Quadro(1) Renoir
Quadro(2,3) Caravaggio










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