Allen Ginsberg


CANÇÃO

O peso do mundo
         é o amor.
Sob o fardo
       da solidão,
sob o fardo
      da insatisfação


 o peso
o peso que carregamos
        é o amor.


Quem poderia negá-lo?
          Em sonhos
nos toca
      o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
         na imaginação
aflige-se
         até tornar-se
humano —


sai para fora do coração
         ardendo de pureza —


pois o fardo da vida
          é o amor,


mas nós carregamos o peso
           cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
          finalmente
temos que descansar nos braços
           do amor.


Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor —
           quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
           ou por máquinas,
o último desejo
          é o amor
— não pode ser amargo
         não pode ser negado
não pode ser contido
           quando negado:


o peso é demasiado

          — deve dar-se
sem nada de volta
         assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda a excelência
         do seu excesso.


Os corpos quentes
          brilham juntos
na escuridão,
          a mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
          na felicidade
e a alma sobe
         feliz até o olho —


sim, sim,
           é isso que
eu queria,
          eu sempre quis,
eu sempre quis
         voltar
ao corpo
         em que nasci.



***
Textos extraídos do livro "Uivo: Kadish e outros poemas" (L&PM, 2010).
Tradução de Claudio Willer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

OS 100 MELHORES POEMAS INTERNACIONAIS DO SÉCULO XX

Rafael Sanzio.