Para Alguém.

20 de setembro de 2016


Se houvesse apenas um caminho

Dentre vários outros que se apagam,

Quando você olha para trás e observa as marcas de seus pés na areia,

Quando você olha no espelho e não enxerga o próprio rosto,

Lembrando das memórias que já não estão ali.

Lembranças que já não fazem parte da sua nova história.


E o vento corta seu rosto,

Bagunça seu cabelo enquanto caminha,

Contorna seu corpo e corre em direções opostas.

É o mesmo vento que levanta sua blusa quando anda de bicicleta.

É o mesmo vento que sopra na janela do quarto de alguém

Que tenta decifrar minha mente e tudo que faz parte dela.


Alguém que deita ao meu lado e me trata como uma doce criança.

Alguém que me beija e me toca com a serenidade de um anjo.

Alguém que quer saber o que vejo, e entender o que sou

E por que sofro tanto com essa tempestade que cai sobre minha cabeça.


E às vezes, sinto que começo a me sentir em paz…

Que com esse alguém posso expandir para novos horizontes.

Esse alguém tenta me levar a lugares nunca antes navegados.

E se um dia eu pudesse lhe contar um segredo…

Eu diria que, quando estamos a sós, no seu apartamento,

Esqueço — por um momento — desse vazio que me afunda.

Esqueço que há algo lá fora tentando me destruir.


Ele aquece minhas esperanças.

Ilumina o meu único sol.

E isso tudo acontece quando estou em seus braços.


Porém, quando saio de lá, todos os meus temores retornam,

E me lembro que não seria justo com esse alguém…

Trancá-lo em minha redoma de ouro.

Machucá-lo com meus medos e loucuras cotidianas.

Condená-lo a ficar preso em meu mundo de dor.

Iludi-lo, quebrá-lo e cortá-lo — como fizeram comigo.


Eu queria olhar através de sua alma e dizer-lhe:

“Eu sinto muito.

Sinto tanto.

Sinto uma imensidão…

Mas às vezes, eu não sinto nada.

E a culpa não é sua.

Sou eu.

É algo que abrigo.”


E é por isso que quero afastar-me dele.

Mantê-lo livre para ser de outra.

Alguém que seja inteiro.

Alguém que não possua uma alma dilacerada como a minha.

Alguém que o faça imensamente feliz — como eu não posso fazer, neste momento.


E se, no futuro, eu tivesse uma última chance…

Se houvesse apenas um caminho

Dentre tantos outros que se reencontram…

Se, finalmente, os deuses olhassem para mim com olhos celestiais…

Se surgisse um único caminho claro, que me levasse de volta até você…

Sem fragmentos, sem tormenta, sem vazio,

Sem dor, sem esses problemas que me matam por dentro…

Eu pegaria sua mão com força…

E te puxaria para caminhar ao meu lado.


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